Cada vitória é uma festa e a derrota um dissabor. Até um simples empate, que podia consolar, quase sempre é conquistado
Paulinho Nogueira – Meus 20 anos (Ai Corinthians)
quando é preciso ganhar.
Era manhã de uma quinta-feira, dia cinzento e corremos todos nós para o Ginásio do Ibirapuera. Era assim que se conseguia ingressos para uma semifinal no longínquo 2008. As organizadas faziam um bolinho em frente à bilheteria e ninguém conseguiria comprar ingressos até que elas tivessem comprado todos que quisessem.
A gente ficava das 8h até 20h para TENTAR conseguir um ingresso sem qualquer garantia de sucesso. Hoje a turma reclama – com razão – que o site saiu do ar…
Cheguei por volta das 8h e consegui comprar meu ingresso por volta das 16h. Era uma numerada no Morumbi, não havia mais arquibancada. Todos os 68 mil ingressos tinham sido vendidos, embora no estádio só aparecessem 62 no dia fatídico.
O Corinthians e nós corinthianos estávamos machucados, doloridos. 2007 havia sido um ano para esquecer. O ano da vergonha, o ano do dissabor.
2008 não havia mesmo começado muito melhor, ficamos de fora das semifinais do Paulista, vimos a Ponte Preta tomar nosso lugar. Por isso valia tanto aquele ingresso. Uma semifinal de Copa do Brasil, o time engrenando, uma disputa real, estádio lotado, quem sabe?
O primeiro tempo acabou e a gente nem viu… O segundo tempo começou quente, aos 7 minutos Herrera acredita numa bola meio perdida, no canto direito da área, passa pelo goleiro que sai voado num carrinho e antes de cair consegue tocar para o folclórico Acosta que só empurra pro canto direito do gol, no contrapé do zagueiro que, inútil, tentava fechar a casinha. Era 1 x 0, estávamos no páreo.
O jogo de ida foi no recém inaugurado Nilton Santos, um estádio olímpico construído para os jogos Pan-Americanos de 2007. Aos 22 minutos, o Herrera deu lindo passe para o lateral-direito Carlos Alberto bater cruzado e colocar o Timão na frente. Mas como aqui é o Corinthians, o mesmo Carlos Alberto empurra um certo Jorge Henrique com o braço esquerdo. Pênalti e empate. Aos 43 do segundo tempo o lateral Alessandro cruza e Jorge Henrique vira. Era bom o moleque, azar o nosso.
Por isso era tão importante o gol do Acosta. Nossa autoestima de volta, nosso time jogando de verdade, a gente sonhando com uma final. E dois minutos depois, logo aos 9 do segundo tempo, o Botafogo empata num escanteio. Felipe, nosso goleiro, saiu completamente errado e Renato Silva, zagueiro, empata com o gol livre. A gente não veio ao mundo para ser feliz, a gente veio para sofrer.
Mas como sofrimento não é sinônimo de derrota, aos 19 uma falta na entrada da área e Chicão bate de forma magistral. Obviamente ele não bateu a falta sozinho. Estavam com ele Rivelino, Marcelinho, Neto, Zenon… Todos nós empurramos a bola por cima da barreira – que estava adiantada – e colocamos ela dentro do gol. A disputa nos penais viria.
Ah sim, eu estava no estádio. Ao meu lado uma família tradicional. Pai, mãe e um moleque de uns 12 anos. Primeiro jogo da vida dele, me contavam contentes os pais antes do começo do jogo. Para ser honesto eu não me lembro das batidas todas. Sei que o último penal foi batido por alguém do Botafogo.
O moleque tapou os olhos com as mãos, sem saber que ser Corinthians é sofrer. Eu, completamente alucinado e fora de qualquer propósito olho bem para o moleque e faço a profecia: “Pode olhar moleque, esse canalha vai errar. Pode olhar”.
Felipe defendeu. Estávamos na final. O moleque desacreditado começa a chorar. Eu choro também. Os pais olham a cena e choram junto.
Ah Corinthians, cachaça do torcedor.
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