Ryan e Luxemburgo: aqui está a história da camisa 2 do Timão

por | jan 23, 2024 | Crônica, História | 0 Comentários

O ano é 2023, o Corinthians aos trancos e barrancos consegue chegar vivo num mata-mata da Sulamericana. O treinador é Vanderlei Luxemburgo (obrigado Duílio) e o jogo é repleto de hostilidades.

Uma semana antes, na Neo Química Arena, o preparador físico da equipe adversária, Sebastián Avellino Vargas, fez gestos racistas imitando um macaco em direção à torcida corintiana e saiu detido do estádio. No Peru o tema foi tratado não como ato de racismo mas como injustiça, como se o Corinthians tivesse escolhido prender um pobre coitado.

Não nos iludimos, o Corinthians tem muita gente racista e dificilmente escolheria punir um racista. A gente viu um caso parecido no Conselho Corinthiano no mesmo 2023, sem qualquer punição até o momento – a informação é do GE.

No jogo de volta, como não poderia deixar de ser, um sofrimento tremendo até quase o final da partida. O jogo de ida foi de vitória alvinegra, com gol do Felipe Augusto, garoto da base que já foi embora e não deixou nenhuma saudade. Pois o jogo estava num desespero empate – que nos classificava – até os 46 minutos do segundo tempo quando Ryan, hoje jogando a copinha pelo Timão, fez o gol derradeiro e uma comemoração que deveria ser histórica… Se o treinador e o próprio jogador – e talvez a torcida – soubessem a história do próprio time.

Imagem: Raul Sifuentes/Getty Images

Ryan fez o gol, tirou a camisa listrada e mostrou à torcida, paralisando o jogo por 15 minutos em uma confusão generalizada. Na coletiva de imprensa o ex-treinador em atividade, Vanderlei Luxemburgo, pediu desculpas à equipe adversária – que entrou com faixas em defesa do preparador racista dias antes da partida.

Respeitem nossa história

107 anos antes, num 14 de fevereiro de 1915, o Corinthians vencia uma outra partida pelo placar de 2×1. Era Corinthians e Caçapavense em jogo amistoso.  Confronto aconteceu às 16 horas (horário de Brasília) no Estádio Campo Vera Cruz, em Caçapava, SP e o treinador Amílcar Barbuy, escalou a equipe com: Aristides; Fúlvio, Casemiro González, Police e César Nunes; Bianco, Américo, Peres, Amílcar, Apparício e o ídolo maior, Neco – outro dia a gente conta essa história também.

O amistoso entrou para a história mas não foi pelo jogo em si. Na realidade o amistoso só se deu porque a Associação Paulista de Esportes Athleticos (APEA) e a Liga Paulista impediu o Corinthians de disputar os principais campeonatos da época. Motivo: Corinthians queria inscrever Davi – que na verdade nunca quis lutar com Golias nenhum todo mundo sabe – jogador preto e acabou excluído das duas associações e sem chance de disputar o bicampeonato (Timão ganhou o Paulista de forma invicta em 1914).

Foi então que o Timão criou uma camisa preta, com listras brancas, para protestar e afirmar a necessidade da inclusão dos pretos no futebol.

O timão só voltaria a usar a camisa nos anos 40.

Ryan provavelmente nunca soube da história da camisa 2. Mas ao mostrá-la, orgulhoso, àquela torcida que fez dois jogos com muitos atos racistas – tô sendo responsável aqui para não dizer que todo mundo ali era racista – Ryan nada mais fez do que respeitar a história do manto sagrado que segurava.

Luxemburgo, o frouxo, pediu desculpas pelo ato, como se tivesse alguma agressão em mostrar a um bando de racistas – às favas com a responsabilidade – uma camisa em homenagem aos pretos que tanta história fizeram ao futebol e, em especial, ao nosso clube.

Augusto Melo faria bem se seu departamento de futebol contasse a história do timão aos jogadores profissionais em cada início de temporada. Provavelmente vai atrasar alguma disputa de futebol de mesa, mas talvez nos poupe de novos atos de frouxidão.

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  1. Nós vivemos de Corinthians, não vivemos de títulos | Sou Corinthians - […] Nós somos os doentes que gritam mais alto quando levam gol. Nós somos do tipo que levantam a camisa…
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