As equipes masculina e feminina do Corinthians sofrem, atualmente, de um mal comum: a falta de eficácia ofensiva. Um problema já detectado, mas que persiste, e vem fazendo com que António Oliveira e Lucas Piccinato empilhem resultados que não batem com o que seus times produzem. Assim, sofrem pressões que não deveriam, pelo que apresentam, dentro das capacidades e expectativas de cada equipe.
Esse era um pensamento que eu já tinha em mente há algum tempo. Mas formei definitivamente meu convencimento nessa semana, assistindo a Flamengo 2×0 Corinthians, pelo Brasileirão masculino, e torcendo na Neo Química Arena pelas Brabas em Corinthians 3×2 São Paulo, pelo Brasileirão feminino. E não é difícil de explicá-lo.
Masculino sofrendo

Assistimos neste sábado (11) a um Corinthians bastante dominado pelo Flamengo no Maracanã. Preso em um esquema novo de António Oliveira, com três zagueiros, o Timão não impediu os donos da casa de se imporem e criarem muitas chances. Mesmo assim, é impossível não olhar para o jogo e, analisando friamente, concluir que os dois gols flamenguistas surgiram de falhas individuais de jogadores nossos. E mais: ambos ocorreram após o Corinthians perder uma grande chance de gol.
Sequer é a primeira vez que isso acontece. O mesmo script aconteceu no jogo contra o Juventude, em 17 de abril: o Corinthians perdeu uma chance claríssima de gol, com Yuri Alberto, e praticamente na jogada seguinte o Juventude abre o placar para, seis minutos depois, fechar o caixão no Alfredo Jaconi. Olhando números de outros jogos do Alvinegro no Brasileirão, é notável que, embora só tenha marcado gols contra o Fluminense, o Corinthians tenha quase sempre finalizado mais (inclusive a gol) do que o adversário, falhando em converter.
A pergunta que fica, portanto, é: se o time vem criando chances, jogo após jogo, e não consegue marcar, o problema da equipe é de criação? Não é. E António Oliveira já detectou isso, pois falou na coletiva deste sábado sobre o tema e foi preciso na sua avaliação de que o problema do Corinthians é eficácia. Ou seja: ser capaz de colocar a bola na rede quando tem a chance.
Contexto importa
Vejam que a questão não é exatamente falta de eficiência. Eficiência tem a ver com o modo de fazer determinada atividade, mas estamos falando de eficácia mesmo, ou fazer o que é certo para atingir um objetivo. É possível ser eficiente sem ser eficaz. Um exemplo disso foi o jogo contra o Fortaleza, quando o Corinthians foi eficiente no ataque, finalizando nove vezes a gol, mas não foi eficaz, pois não marcou nenhum.
Essa constatação abre espaço para fazermos uma análise mais pragmática do trabalho de António Oliveira no Corinthians. Após seus 20 primeiros jogos, é evidente que existem problemas a serem corrigidos. A insistência com certos nomes (como Paulinho), e a falta de oportunidade a jovens da base que poderiam ser testados com mais minutagem (como Ryan, Léo Mana e Arthur Sousa) é algo flagrante. Mas, antes de condenarmos seu trabalho, não vale refletir sobre a falta de talento no banco de reservas, por exemplo? Penso que sim. Além disso, se o time cria, cria, cria, e não faz gol, até onde podemos culpar apenas o treinador?
Com um empate diante do Juventude e uma vitória diante do Fortaleza (nem vou considerar o jogo contra o Flamengo), o Corinthians teria hoje duas vitórias, dois empates e duas derrotas no Brasileirão, ou oito pontos ganhos. Ocuparia um confortável 8º lugar na tabela, dentro da zona de classificação para a Libertadores. E isso, sem que o António tivesse que mudar nada do trabalho que fez. Bastaria que duas chances de gol tivessem sido convertidas pelos jogadores. E jamais se falaria em “pressão” ao se avaliar o trabalho do português.
E no feminino?

Com Lucas Piccinato, a situação é parecida, mas ao mesmo tempo bem diferente. Embora o Corinthians Feminino também sofra com a falta de eficácia, ela não tem causado perda de pontos para as Brabas. Pelo contrário inclusive: em 13 jogos no comando da equipe, o treinador acumula 12 vitórias e um empate. Já foi campeão da Supercopa do Brasil com três vitórias, e ajuda o Timão a liderar o Brasileiro desde a primeira rodada. Mas qual o ponto sobre ele, então?
O ponto é que as chances perdidas acabam por impedir o Corinthians Feminino de garantir resultados mais compatíveis com a produção ofensiva. E isso traz ao trabalho de Piccinato uma pressão que, com Arthur Elias, não costumava existir quando o mesmo problema ocorria. Isso pois o mesmo acumulava uma bagagem de anos a fio dentro do clube, com títulos sendo empilhados ano a ano, coroando um trabalho absolutamente eficaz. Mas não perfeito. Todos nós conseguimos nos lembrar de jogos onde o time perdia muitas chances, e às vezes até deixando de vencer. Não é à toa, inclusive, que um dos apelidos das Brabas de Arthur Elias era PerdeGol FC.
Quando o simples não basta
Essa tal bagagem, que só o tempo traz, o Piccinato ainda não tem. Então, placares elásticos em sequência seriam a forma mais curta de gerar essa gordura, de passar uma “segurança” ao torcedor de que está tudo bem. A Fiel não se importa que o Corinthians Feminino ganhou do Atlético-MG por 3×1. Ela cobra pois, para ela, é inadmissível que o jogo não tenha sido uma goleada. Contra o Santos aconteceu a mesma dinâmica nas redes: uma cobrança pois venceu de pouco e outros golearam.
E não é como se o ataque estivesse pior esse ano: o Corinthians Feminino marcou 36 gols nas 13 partidas que fez, ou uma média de quase três por jogo. Muito parecido com qualquer temporada do time com Arthur Elias. Mas a quantidade de chances perdidas faz parecer que isso é pouco, e passa a sensação de que o time regrediu. Vendo o Majestoso hoje, em Itaquera, irritou as vezes em que o time chegou com facilidade na área adversária e não conseguia concluir com qualidade. Fica difícil não pensar que o time piorou.
Conclusão
Dito tudo isso, a pergunta que fica é óbvia: o que fazer? A resposta também é óbvia: ser eficaz e converter as chances que cria. O futebol às vezes é muito simples, e não há muito o que inventar. Se um time não é tão completo e ainda não tem condições de almejar títulos, como é o caso do masculino, precisa aproveitar as chances de gol que tem, ou vai perder os jogos. E se um time é o maior e melhor dentre todos, como é o caso do feminino, precisa se impor de acordo em todas as partidas e marcar sempre o máximo de gols, ou vai correr riscos desnecessários durante as partidas.
E isso passa, claro, pelos ataques das equipes. No masculino, Yuri Alberto é a referência, com Romero também se destacando. Mas quando ambos se complicam, o Corinthians sofre. Tem Wesley como válvula de escape criativa, mas na área se vê com opções que se mostram limitadas, como Pedro Raul ou Mosquito, enquanto Arthur Sousa não recebe chances. Já no feminino, a solidariedade ofensiva segue sendo a marca. Isso pois 14 jogadoras já marcaram pelas Brabas e três jogadoras são as artilheiras da temporada: Duda Sampaio, Vic Albuquerque e Jheniffer, com cinco gols cada. O que impede o time de marcar mais gols ainda, então? Displicência? Desconcentração? Outra coisa?
O meu sonho é que as comissões técnicas estejam trabalhando em maneiras de mudar esses quadros. Afinal, é algo que está trazendo prejuízos, tanto ao masculino que ao feminino. E em ambos os casos, os resultados que vão se acumulando, talvez fora das expectativas de torcida, ou mesmo direção, podem fazer com que um treinador, ou ambos, acabem pagando por erros que, talvez, não sejam necessariamente seus. E isso, além de injusto, seria um grande retrocesso.
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