Augusto Melo: os primeiros 20 dias de gestão

por | jan 19, 2024 | Futebol Masculino | 0 Comentários

Empresário do ramo têxtil, Augusto Melo foi eleito presidente do Sport Club Corinthians Paulista em 25 de novembro de 2023 com 66% dos votos e o apoio de 4 das 8 chapas eleitas para o Conselho Corinthiano, que deve escolher suas cadeiras na próxima reunião, 1º de fevereiro de 2024.

Para muitos, Augusto Melo representa finalmente o fim da era Dualib no clube, uma vez que boa parte da Renovação e Transparência era apoiadora do ex-Presidente. Seu diretor de futebol, Rubens Gomes (Rubão), no entanto, fez parte da administração Dualib, tendo executado as mesmas funções no fatídico ano da queda. O dirigente se defende:

– Deixei o Corinthians no final do primeiro turno, com o time na nona colocação, com um jogo a menos, e com R$ 70 milhões em caixa, pelas vendas de Carlos Alberto, Willian, Marcelo Mattos e Éverton Santos. Depois que saí que contrataram Aílton, Iran, Fábio Braz… – recorda-se o dirigente.

Citação publicada originalmente no Globo Esporte

Começo o texto falando de Rubão porque é ele a figura mais polêmica da administração até aqui – polêmica na escolha, porque nas ações, até aqui, não há quase nenhuma polêmica. E digo que ele é a figura mais polêmica porque não há nada polêmico em Osmar Stábile, defender a ditadura e Bolsonaro é falha de caráter e ponto final.

Rubão e Rozallah comemoram a vitória
Rubão (diretor de futebol) e Rozallah (diretor financeiro) comemoram a vitória –
Crédito da foto: Victor Amatucci / Sou Corinthians – Crédito do foco: Algumas latas de cerveja

Uma diretoria técnica… mas cadê o executivo?

Durante a longa campanha eleitoral, Augusto Melo prometeu a todo instante uma diretoria que fosse técnica, especialista em suas áreas. Isso até aqui tem acontecido.

  • Futebol Masculino – Rubens Gomes
  • Futebol de base – Claudinei Alves
  • Jurídico – Yun Ki Lee
  • Financeiro – Rozallah Santoro
  • Marketing – Sérgio Moura (como Superintendente, cargo remunerado)
  • Esportes terrestres – Marco Polo Lopes Pinheiro
  • Administrativo – Marcelo Mariano
  • Esportes aquáticos – Eloi Pagani
  • Social – Susy Miranda
  • Cultural – Raul Corrêa da Silva
  • Secretário Geral – Vinicius Cascone

Rozallah Santoro é provavelmente a mais unânime escolha, profissional muito respeitado no mercado financeiro e com ampla experiência, Rozallah tem afirmado em entrevistas recentes que abriu mão de trabalhar em suas empresas para se dedicar integralmente ao Corinthians.

Além dele Yun Ki Lee assumiu o departamento jurídico e também é bastante reconhecido no mercado de trabalho, assumindo nesta gestão também as funções que antes eram relacionadas ao departamento de compliance.

Rozallah tem marcado esta – por enquanto – curta passagem por entrevistas bastante transparentes e sinceras a respeito das finanças do Timão. O quadro que tem passado é de bastante preocupação, mas a forma como tem lidado, até aqui, tem sido bastante eficiente.

A falta de um executivo de futebol, profissional de mercado responsável por toda a gerência, contratações, negociações, inscrições em campeonatos e, principalmente, busca por novos talentos, tem sido alvo de críticas por parte da torcida. Augusto Melo tem repetido que não tem pressa para contratar, mas que tem conversado e ‘monitorado’ alguns nomes para a função.

A opinião deste singelo autor de textos – não que alguém se importe com ela – é que este executivo não será contratado antes do final da janela de transferências ou, pelo menos, não antes do início dos campeonatos estaduais. isto porque um profissional de mercado dificilmente abandonaria o barco num momento tão crucial da temporada, porque poderia fechar portas importantes.

Promessas, patrocínios e transparência

Augusto Melo apresenta novo patrocinador
Augusto Melo apresenta novo patrocinador

Se tem um aspecto que é extremamente positivo, este é a busca por novas entradas financeiras. Augusto Melo prometeu e até aqui tem cumprido com a promessa de valorizar os ativos do Corinthians.

Para se ter uma ideia, a NeoQuímica pagava cerca de 17 milhões de reais para estampar o lugar de destaque da camisa Corinthiana. A VaideBet paga o equivalente a 120 milhões de reais pelo mesmo período de 12 meses. Um aumento de 605% nas receitas recorrentes.

Para além disso, as placas de publicidade da NeoQuímica Arena estavam sem acordo formalizado desde abril de 2023, quando o antigo patrocinador deixou de pagar o valor devido, que era de 12 milhões de reais ao ano. Augusto anunciou recentemente um acordo de 48 milhões de reais anuais para o mesmo espaço. Um aumento de 300%. 

Fora isso existe ainda a promessa de venda dos Naming Rights do Centro de Treinamento do clube. Não falaremos de valores por se tratar ainda de promessa, muito embora os rumores apontem que um acordo está próximo.

Outras promessas ainda aguardam a serem cumpridas. A ampliação do número de lugares na Arena, por exemplo, passa, segundo Augusto Melo, por aprovação nos órgãos públicos e a primeira parte deve ser realizada em breve, com a remoção das cadeiras do setor Sul.

Os ingressos populares prometidos por Augusto Melo foram cumpridos parcialmente, as entradas atrás dos gols de fato sofreram redução e saem a 22 reais para os Fiéis Torcedores, em média. Já nos demais assentos os preços (altos) foram mantidos, custando entre 60 e 90 reais no setor leste e de 90 a 270 reais no setor Oeste (o único setor onde teoricamente se espera um preço alto).

Quanto ao Centro de Treinamento da Base e sua integração com o CT profissional, diz o Augusto (e este pobre escrivinhador não viu qualquer imagem) que já tem obras iniciadas, com a derrubada de um muro e a produção de laudos para que se possa realmente construir o hotel da base. No clube social ainda nada mudou.

No quesito transparência tivemos avanços – Vessoni que o diga – com a publicidade dos termos dos contratos tanto de patrocínio quanto de atletas. Porcentagens, valores de multa, tudo tem sido divulgado no site oficial, conforme prometido.

Rozallah Santoro, por sua vez, prometeu e reafirmou em recente entrevista ao Alambrado Alvinegro a promessa da publicação de balancetes financeiros mensais, uma responsabilidade estatutária que jamais foi cumprida pela chapa anterior cujo nome hoje soa como piada de mal gosto – Renovação e Transparência. Aguardemos, portanto.

E o time? E os atacantes?

O principal problema da atual gestão – obviamente na opinião deste rascunho de gente que escreve aqui – são as entrevistas de Augusto Melo. O presidente tem feito um bom trabalho, mas parece em eterno clima de campanha e a “famosa guerra do Nós contra Eles”, uma guerra que já acabou, porque ele venceu.

A herança de Duílio somada à vontade de falar frases feitas de Augusto causam alguns estranhamentos na imprensa, gerando boatos e factoides que são desmentidos em seguida. O penúltimo deles o fato de que o Cuiabá não teria recebido parte do pagamento. Uma meia-verdade: Cuiabá não havia mesmo recebido, porque o combinado era pagar mais a frente. Claro que depois de tanto calote a imagem do clube está manchada. Mas também parece nítido que Augusto se ajudaria se optasse por uma comunicação menos sensacionalista.

A polêmica mais recente foi a Lucas Veríssimo, que um dia antes da estreia mandou um bilhete terminando tudo. Na apresentação da nova patrocinadora do clube Augusto Melo havia dito que havia “comprado o passe” de Veríssimo e que o jogador faria história no Corinthians. Falou mas não tinha nada assinado e o jogador foi realizar o sonho de jogar no Catar. Sim, lembrou o Roger Guedes. O empresário é o mesmo. O mesmo do Carille que saiu meio fugido-meio contratado do Japão. Não é exatamente alguém em quem se possa confiar na palavra – mas hoje em dia, quem é que confia?

Podia ter passado sem essa se no dia 10 de janeiro tivesse cobrado a assinatura do jogador – para o qual o clube pagou 1 ano de empréstimo e teve 6 meses apenas, sem direito a compensação financeira (Valeu Duílio!) – antes de anunciar publicamente, na frente do novo patrocinador.

Seria melhor a imprensa afirmar: “Corinthians conseguiu quase 1 bilhão em patrocínio”, depois dos patrocínios chegarem, do que Augusto falar isso antes de ter qualquer coisa fechada. Mesmo que feche depois. Não tivesse falado tanto de GabiGol talvez a torcida não estivesse tão ansiosa por uma contratação de impacto – contratação que ao que parece não acontecerá.

O time montado até aqui, no papel (e olha o risco que corre o pobre que assina este texto, as palavras todas foram colocadas antes do primeiro jogo do campeonato paulista), é muito superior ao time do ano passado e uma simples comparação direta entre os resultados do ano anterior e ao final deste ano de 2024 deveriam ser suficientes para agradar a fiel. Mas quando você anuncia a possível chegada de um GabiGol e entrega uma conversa com Mantuan, bem, não é a melhor das comparações possíveis.

Conclusão

É impossível dizer que a gestão até aqui tem errado mais do que acertado. Só de dinheiro novo estamos falando na ordem de 600 milhões de reais. E um time que, ao menos no papel, aparenta ser mais confiável que no ano passado.

Além disso a estrutura da diretoria, a contratação de uma psicóloga e um bom trabalho nas redes sociais do clube são animadores. Mas será assim até o final do mandato? Bem, quanto a isso fico com o historiador grego Heródoto e deixo uma frase de um outro sábio grego – quem sabe assim alguém dê algum crédito a este texto?

“Prezado rei, vossa majestade realmente é um homem muito poderoso e rico, além de admirado por seus súditos. No entanto, quem garante como estarás amanhã? Veja, só posso dizer se um homem é feliz quando sua vida se esgota, para que saibamos se ele morreu na felicidade ou na desgraça”.

Sólon

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