Olhando minha timeline do Twitter, um conteúdo me chamou bastante a atenção na tarde desse domingo (28): era um post do Sofascore, onde comparavam-se os números da última passagem de Vanderlei Luxemburgo pelo Corinthians com os atuais de Mano Menezes. As similaridades são assustadoras.
Mesmo considerando que Luxa dirigiu o Corinthians por 38 jogos, enquanto Mano esteve à frente do Timão por 17 partidas, é possível afirmar hoje que, em questão de desempenho, são trabalhos iguais. Aproveitamento, gols marcados e sofridos, porcentagem de vitórias. Dito isso, é impossível não se fazer duas perguntas: pra que demitiu o Luxemburgo então? E de que resolveu trazer o Mano?
O primeiro erro de Augusto
Passamos a metade final do Brasileirão 2023 em situação bastante complicada. Embora nunca tenhamos, de verdade, lutado contra o rebaixamento, ficamos tempo demais em uma distância muito curta do Z-4. Luxemburgo saiu, Mano Menezes chegou, e em alguns momentos chegamos a pensar que as coisas estavam melhores. Vitórias como o 1×0 contra o Cuiabá fora de casa, ou contra o Grêmio, também fora e pelo mesmo placar, levantaram algumas esperanças. Mas, hoje, colocando em perspectiva, não parece muito pouco?
Foram apenas quatro vitórias em 15 jogos na temporada passada, com muitos pontos conquistados graças a um iluminado e oportuno momento artilheiro de Romero. Acabou sendo o suficiente para deixar o Corinthians em um 13º lugar no Brasileirão e carimbar sua permanência no cargo para 2024, mesmo não sendo – publicamente – o nome favorito de Augusto Melo, então presidente eleito.
Nunca saberemos os reais motivos que o fizeram decidir pela manutenção de Mano Menezes. Mas, hoje, já é possível dizer que tal decisão foi um erro. Um trabalho que já não conseguia explorar todas as potencialidades do elenco e, mesmo após uma pré-temporada dedicada a trazer um pouco de identidade ao time, parece ter regredido em algumas ideias básicas do que se deve fazer dentro de campo. A única característica que permaneceu foi a que não poderia: o time ser bem melhor no papel do que na prática.
R$ 10 milhões agora ou muito mais no futuro?
As derrotas para Ituano e São Bernardo mostraram que é muito difícil ver o trabalho atual prosperar da forma que torcida e diretoria esperam. Jogadores já mostraram, de forma mais ou menos incisiva, que também não estão satisfeitos com algumas situações e atitudes. Se sentem pressionados por conta das expectativas criadas (e não atendidas) pela diretoria, e não reagem aos estímulos de um treinador que em uma coletiva, ataca um recém-chegado de forma gratuita; no outro jogo, chama seu centroavante de “burro”, abertamente.
É sempre um risco fazer futurologia e especular até onde esse Corinthians pode ir, mas o atual trabalho de Mano fede a estagnação. O prazo de validade já está escrito na etiqueta, só não conseguimos ver ainda. O que fazer diante desse cenário? Como lidar com esse paradoxo, onde já se sabe o que fazer, mas parece ser cedo demais para tanto?
Paulista como teste? Não mais
Em outras épocas, diria que valeria a pena dar o Estadual pras suspeitas se confirmarem. Seriam cerca de três meses onde poderíamos ter mais certezas antes de prosseguir ou não com o treinador. Mas, desde o ano passado, temos um agravante que impede o uso dessa estratégia: o fato de os estaduais passarem a servir como classificatória para a Copa do Brasil.
Tal mudança nas regras já fez um grande paulista de vítima: o Santos, que negligenciou o Paulistão ano passado e na atual temporada não disputa o torneio nacional que mais distribui dinheiro em premiação. Podemos nos dar ao luxo de seguir o mesmo caminho esse ano? Penso que não. Se o Paulistão é caminho para a Copa do Brasil, precisa ser levado a sério. E não pode mais servir de laboratório pra treinador sem futuro.
Muito se fala sobre a multa de rescisão de Mano Menezes como um impeditivo. Afinal, hoje, ela sairia em torno de R$ 10 milhões. Mas quanto pode custar ao clube uma ausência da Copa do Brasil em 2025? Não apenas em premiações, mas em bilheterias, patrocínios, vendas de produtos. Mais do que isso: nosso futuro nas competições de 2024 também depende de quanto tempo o time vai demorar a se encaixar. Se isso não vai ocorrer com Mano, terá que ser com o treinador que vier – mas se ele vier em março ou abril, terá tempo para salvar o ano alvinegro? Tenho dúvidas.
2022 como exemplo
Passamos por algo semelhante há dois anos: Duílio insistiu em manter Sylvinho após um 2021 mediano, confiando em melhorias, que não aconteceram. O início da temporada seguinte mostrava que as coisas não mudariam, mas o presidente teimou até tornar a situação intolerável e fazer a torcida se tornar hostil com o então treinador, demitindo-o no início de fevereiro após muito desgaste.
Após muita pesquisa e algumas conversas, chegou-se a Vítor Pereira, que se não foi genial nem transformou o Corinthians em uma orquestra, pelo menos foi o responsável pela temporada com alguns dos melhores desempenhos recentes do clube em competições: quartas-de-final da Libertadores, 4º lugar no Brasileiro e um doído vice-campeonato na Copa do Brasil. Desempenhos que renderam ao clube muita grana e um 2023 repleto de expectativas.
Viesse mais tarde em 2022 e talvez VP não tivesse conseguido os mesmos resultados. Uma mudança radical de comando demanda tempo de adaptação. Penso que é exatamente essa a situação atual do Corinthians: necessitado de um ajuste severo de rota, que se não ocorrer agora, comprometerá a temporada inteira.
Mas quem trazer?
É a pergunta de R$ 1 bilhão. Mas me recuso a ver essa pergunta como um limitador. É inadmissível que um clube como o Corinthians se veja preso aos mesmos nomes de treinadores há tanto tempo. Que seja incapaz de apresentar um projeto ambicioso a algum profissional que traga novos ares ao Parque São Jorge. O departamento de futebol é caro demais para girar tanto em torno de si mesmo.
Se eu fosse apontar nomes, poderia falar dos portugueses Pedro Caixinha e António Oliveira, que realizam trabalhos interessantes no Red Bull e Cuiabá. Por que não estudar Gabriel Milito, ex-Argentinos Juniors (ARG)? Ou Mauricio Pellegrino, que passou por diversas escolas europeias e hoje está na Universidad de Chile (CHI)? Ou quem sabe Eduardo Dominguez, atualmente no Estudiantes (ARG)?
São nomes bastante diferentes, com filosofias próprias. A depender do que o Corinthians deseja atualmente para seu projeto, poderia mirar em um ou outro. Todos, porém, são nomes mais promissores do que Mano Menezes. Claro que poderia dar errado. Claro que a temporada poderia ser de fracassos. Mas, pensando bem: dá pra piorar o que temos visto atualmente? Não dá. Então, o risco não vale a pena? Eu penso que sim.
Errata: o texto original sugeria o nome Maurício Pellegrino, mas ele foi pro Cádiz (ESP) dia 24 de janeiro
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