Especial 20 Anos do Mundial – Parte 2: a final antes da final

por | jan 7, 2020 | Especiais, História

Edilson dribla Karembeu, ilustração de Eric Baket
O drible de Edilson em Karembeu, lance icônico de Corinthians 2×2 Real Madrid (ESP), aos olhos do ilustrador Eric Baket

Continuamos agora nossa série especial de textos sobre os 20 anos do primeiro título mundial do Corinthians! Aqui você pode conferir o primeiro texto, sobre os bastidores da criação do torneio.

Desde que o formato de disputa do Mundial 2000 foi conhecido, três anos antes, uma certeza se firmava para o torneio: sua fase de grupos teria dois jogos decisivos. Isso pois, com metade das oito equipes vindo de Europa e América do Sul, e com apenas os líderes das chaves indo para a final, era como se o torneio já promovesse decisões antes mesmo da decisão, de fato!

Após o sorteio dos grupos, em outubro de 1999, esse cenário ficou mais evidente: no Grupo A, a vaga na decisão seria disputada entre o Corinthians e o poderoso Real Madrid (ESP), então campeão da Copa Toyota. Já no Grupo B, o Vasco teria a companhia de ninguém menos que o campeão europeu, Manchester United (ING).

Claro, havia mais quatro times na disputa, desesperados para estragar esse prognóstico: Al-Nassr (ARA), Raja Casablanca (MAR), Necaxa (MEX) e South Melbourne (AUS). Mas na primeira rodada, entre os dias 5 e 6 de janeiro, o que se viu foi a confirmação do esperado: quatro vitórias para europeus e sulamericanos.

No dia seguinte, então, finalmente ocorreria a primeira “final antes da final”: o campeão brasileiro e anfitrião do torneio, Corinthians, colocaria à prova o favoritismo de um Real Madrid que veio ao Brasil completo, com todas suas estrelas. Entre elas, Roberto Carlos, Raúl, Morientes, Sávio e Anelka!

1º tempo

A partida aconteceu diante de 55 mil torcedores no Morumbi – o maior público da primeira fase, em São Paulo. Mesmo com a torcida contra, porém, o Real Madrid começou o jogo melhor, dominando as ações. O Corinthians, como na estreia, mostrava nervosismo e não conseguia impor seu ritmo de jogo.

Não surpreendeu que a primeira grande chance acabasse sendo dos espanhóis: o lateral-esquerdo Roberto Carlos, mesmo profundamente vaiado pelos corinthianos, cobrou falta e levou muito perigo ao gol de Dida. Mas o gol só demorou mais alguns minutos a acontecer: aos 20, o próprio Roberto Carlos bateu falta, e Anelka – de calcanhar – tocou para o gol: Real 1×0.

O Corinthians quase empatou na logo na sequência. Na verdade, chegou a empatar, com João Carlos, mas o gol do zagueiro corinthiano foi anulado pelo árbitro, que marcou falta de ataque no goleiro Casillas – falta essa que não existiu. Mas não existia VAR na época, né?

O Real Madrid continuou ameaçando. Aos 29, Raúl tentou marcar o seu de voleio, mas a bola foi para fora. E justamente quando o segundo gol espanhol parecia amadurecer, o Corinthians empatou: em falha de marcação do Real, Luizão aproveitou para tocar a bolar para Edilson, que bateu rasteiro na saída do goleiro Casillas. Tudo igual em São Paulo!

Anelka em Corinthians 2x2 Real Madrid (ESP)
Anelka fez grande jogo contra o Corinthians (Foto: Reprodução/Fox Sports)

2º tempo

Na volta do intervalo, o Corinthians melhorou de produção, mas o Ral Madrid ainda parecia mais seguro na partida. Só nos primeiros 15 minutos, Anelka teve três chances de gol, mas perdeu todas. E tamanha displicência não tem perdão!

Foi quando o lance mais bonito do jogo (e talvez do Mundial inteiro) aconteceu: em contra-ataque perfeito, Edilson recebeu a bola na entrada da área, tocou a bola por debaixo das pernas de Karembeu sem o menor pudor e chutou forte rasteiro, sem chances de defesa. Era a virada corinthiana, para explosão da torcida no Morumbi!

O Real Madrid, que com esse resultado estava virtualmente eliminado, foi ao ataque e quase empatou aos 23: Sávio ficou live e chutou cruzado, mas Dida salvou. Só que três minutos mais tarde, não houve o que fazer: Anelka recebeu livre, driblou o goleiro corinthiano e só rolou para o gol. Era o empate.

Mas houve tempo para o troco do paredão corinthiano, e com juros: já no fim do jogo, o Real Madrid teve um pênalti marcado a seu favor. Sávio seria o cobrador, mas Anelka quis o hat-trick. Ele foi para a bola, bateu, e perdeu: Dida defendeu, com facilidade até, para garantir o 2×2 naquele que foi, talvez, o melhor jogo do Mundial de Clubes.

Com isso, a “final antecipada” do grupo não teve vencedores, e a decisão da vaga na final ficaria mesmo para a última rodada.

Placar do Morumbi em Corinthians 2x2 Real Madrid (ESP)
Terminou empatada a partida mais esperada do Grupo A do Mundial 2000 (Foto: Gazeta Press)

Audiência histórica

Outro detalhe legal sobre essa partida foi que nela aconteceu, pela primeira vez, algo que muito se falava que aconteceria: a vitória da Rede Bandeirantes sobre a Globo na audiência.

Relembrando: a Globo tentou comprar os direitos do Mundial de Clubes, mas exigia que as partidas ocorressem em horário mais tardio, para encaixá-los na sua grade após a novela Terra Nostra, que na época rendia audiências recordes à emissora. Diante da recusa da Traffic, detentora dos direitos de transmissão, a Band acabou adquirindo os direitos exclusivos do torneio.

Em reação, a emissora global adotou uma estratégia editorial de diminuir a importância do torneio, chamando-o de “torneio de verão” e dedicando-lhe apenas alguns segundos de noticiário. O rótulo, pegou e até hoje é usado por adversários do Corinthians para desmerecer o torneio, mas na época, a estratégia foi inútil.

Já na estreia do Timão no torneio, a Band conseguiu picos de 25 pontos de audiência e emplacou um segundo lugar histórico na grade. Já na segunda rodada, contra o Real Madrid, veio a surpresa: a vitória sobre o “imbatível” Jornal Nacional, obtendo 25,5 pontos de média contra 24,5 do telejornal – além de absurdos 36 pontos de pico!

Claro, esses números seriam superados ainda no Mundial. Mas isso fica para outro texto desse especial!

Escrito e revisado por Daniel Keppler

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