Lucas Veríssimo se junta à seleta lista de atletas que escolheram deixar o Parque São Jorge pela porta dos fundos
Esse 20 de janeiro deveria ficar marcado pelo reencontro entre torcida e elenco, no sagrado campo da Fazendinha durante o treino aberto, às vésperas da estreia no Paulista. Era o dia de firmar um pacto de apoio incondicional, por um lado, e lealdade e entrega até o último minuto, do outro. Mas infelizmente, Lucas Veríssimo tinha outros planos.
O que era, inicialmente, uma ausência de última hora provocada por “dores no joelho” se transformou, ainda durante a manhã, em uma saída definitiva do Corinthians, motivada por uma proposta do futebol do Qatar que o Corinthians não poderia cobrir. E assim, em um segundo, perdeu-se todo o trabalho defensivo realizado durante a pré-temporada, bem como foi jogada no lixo uma vaga de inscrição no Estadual.
O Corinthians se posicionou, confirmando a saída do atleta e lamentando sua postura, reforçando que havia um acordo de compra firmado entre o clube e o Benfica (POR) e que o contrato estava com Veríssimo desde o dia 4 de janeiro, porém jamais retornou assinado. Mesmo assim, as dúvidas são maiores do que as certezas nesse caso.
Amadorismo de um lado…
Impossível não observar a conduta do Corinthians no caso. Tendo o atleta emprestado até junho, confiou que um acordo verbal bastaria para prendê-lo no clube até o momento em que realmente fosse necessária a assinatura do vínculo definitivo. Ignorou o fato de que o Benfica é conhecido por não aceitar perder dinheiro em suas negociações. Ignorou o fato de que o Benfica não tem um histórico de complacência nas últimas negociações conosco. E ignorou, sobretudo, que o atleta possui um empresário cujo currículo é recheado de negociações onde o dinheiro fala mais alto que o projeto esportivo – fomos vítimas disso ano passado, com Roger Guedes!
Infelizmente, não surpreende que a gestão amadora de Duílio Monteiro Alves tenha negociado um empréstimo junto ao Benfica sem uma taxa de vitrine caso Veríssimo fosse vendido. Agora, como aceitar que a diretoria comandada por Augusto Melo entregou um contrato ao jogador dia 4 de janeiro e, passadas duas semanas, não exigiu o documento assinado de volta? Como compreender que, nesse meio tempo, o presidente deu mais de uma declaração tratando o negócio como sacramentado, inclusive na frente do próprio jogador, em cena que já se tornou meme por conta da fisionomia de total constrangimento do atleta enquanto ouvia a declaração? O que nos leva ao outro lado dessa história.
… Trairagem do outro
A nota do Corinthians afirmava que o clube foi informado da saída do jogador “nas últimas horas”. Faz sentido, visto que o clube inscreveu Veríssimo no Paulista. Mas, alguém acredita que a oferta do Al-Duhail, toda a negociação sobre valores e o aceite do jogador aconteceu apenas nessas últimas horas?
Ignoramos completamente o passado do atleta. Não é a primeira vez que Lucas Veríssimo sai de um clube pela porta dos fundos. No final de 2020, enquanto o Santos disputava o mata-mata da Libertadores, o jogador lutou para forçar sua venda para o Benfica, deixando de comparecer a treinos e se negando por mais de uma vez a entrar em campo. Acabou conseguindo sua venda, que ocorreu em janeiro do ano seguinte.
Já no Corinthians, fica difícil afastar a sensação de que o jogador usou o clube. Chegou ao Brasil após deixar de ser prioridade no Benfica, por conta de uma lesão que o deixou fora dos gramados por 11 meses. A desconfiança sobre sua forma física era flagrante. Mas no Parque São Jorge, o tratamento recebido o fez retornar a uma excelente forma física e rapidamente se tornar um dos pilares do Timão dentro de campo, e imprescindível para 2024.
Houve rumores de que o jogador não ficaria, mas o Corinthians conseguiu um acordo com o Benfica para adquirir seus direitos por € 8 milhões. Mas hoje sabemos que esse acordo nunca foi sacramentado, e que o contrato com o jogador jamais foi assinado. E é impossível não ficar em dúvida sobre as intenções do jogador ao fazer isso, enquanto assistia a diretoria tratá-lo como jogador do clube e registrá-lo para a disputa do Campeonato Paulista.
O que resta ao Corinthians
Para o clube, fica a perda técnica dentro de campo, e de tempo fora dele. O prejuízo é generalizado. E será difícil encontrar uma reposição à altura, dadas as condições em que o clube se encontra e a forma como o mercado se apresenta no momento. Mano Menezes terá que se virar com o que tem.
Já para nós, torcedores, esse caso ficará na memória como mais uma prova de que quem ama o Corinthians é a sua torcida, e de que as juras de amor de jogador de futebol valem menos que uma nota de 3 reais. Buscarão sempre o benefício financeiro, e com esforço dobrado se estiverem acompanhados de um empresário suficientemente oportunista.
Que sirva de lição para sermos um pouco mais exigentes ao definirmos nossas idolatrias e repetirmos, como um mantra: nenhum jogador é maior que o Corinthians.
0 comentários